Article,

Tavira romana

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2 (5): 9--12 (2006)

Abstract

A ocupação da zona urbana de Tavira na Época Romana Geografia histórica do povoamento, rede viária e sacralização do território Luís Fraga da Silva Associação Campo Arqueológico de Tavira, 2005 4Edição, de 12-04-2006 Resumo A cidade de Tavira foi um lugar pouco importante na Época Romana, não tendo a tradição da sua "Pon-te Romana" fundamento arqueológico. Passava no entanto a\ ́a principal via romana do Algarve, inte-grada no Itinerário Antonino XXI na sua etapa Balsa-Baesuris (Castro Marim). A travessia do rio efec-tuar-se-ia possivelmente ou por passadeiras ou por uma ponte de madeira, estruturas que não deixaram vest\'íos. O síó notabilizava-se então pela presença de um grande campo de ruín ́tartésicas na colina de Santa Maria, abandonadas já há séculos, por uma domus ou villa (que ficou na toponímićomo Villa Frigida, evoluindo posteriormente para Bela Fria) e por uma ocupação agrícolńo Campo da Atalaia, de que apenas se conhece a necrópole. Destacava-se ainda o vau do rio, sítio ́passagem da referida via, onde se pensa ter existido um santuá-rio fluvial junto da nascente aí exisńte, dedicado a uma divindade desconhecida. Coloca-se a hipótese de o nome do rio Séqua ser de origem pré-romana e estar associado a essa divindade, que pertenceria então ao mundo céltico ou, mais provavelmente, a uma raiz indo-europeia anterior. São também numerosos os mananciais sacralizados no percurso da via romana e nas suas ligações secundárias nos arredores de Tavira. Associados a funções viárias e com uma origem ou tradição popu-lar pré-romana, são, ou certificados pela presença de "pegadas" gravadas na pedra ou deduzidos pelas característicasás dedicações páleo-cristãs, por cultos populares actuais e lendas tradicionais que indi-ciam uma continuidade desde a Antiguidade. Estes indícios, aím como a fertilidade estuarina e agrícola dasédondezas, são contraditórios com a escassez de lugares de povoamento romano conhecidos. Tal poderá dever-se a uma ocupação rural dis-persa por populações turdetanas autóctones, enquadradas no sistema fundiário e fiscal romano preva-lente no território balsense. Séculos mais tarde, provavelmente já durante o domínio visigíco, o sítio do vauérá sido cristianizado com uma dedicação a São Juliano. O hagiónimo Sancti Iuliani passaria a designar um pequeno povoado da margem esquerda (hoje colina de Sant'Ana) e a parte terminal do rio. No século X o culto de S. Julião permanecia vivo, como prova a existência de um bispo local chamado Iulianus. No séc. XII o local, já totalmente islamizado, denominava-se Gilla, nome que abrangia o troço final do rio, que evoluiu para o Gilão actual. A reconstituição da rede viária romana realiza-se a partir da articulação desses sítios com ouós ele-mentos arqueológicos, balizada pela restituição da linha da margem do rio e dos esteiros na Antiguida-de e orientada pelas directrizes de arruamentos primitivos, limites de propriedade e caminhos rurais mais ou menos fossilizados. Estes elementos são avaliados tendo em conta as transformações dos eixos de comunicação ocorridas em Tavira em épocas marcantes posteriores, nomeadamente no apogeu do domínio islâmicośéc. XII), no séc. XVII e na 2metade do séc. XIX. Tavira Romana, Luís Fraga da Siá. Ver. 2, 09-12-2006 5:46 2 Prefácio Tavira foi confundida durante séculos com Balsa, cidade romana cuja localização permaneceu desconhe-cida até 1866 1 . Nesse ano, Estácio da Veiga e Teixeira de Aragão identificaram-na nas extensas ruínas romanas ext́entes nos terrenos litorais em frente da povoação da Luz de Tavira 2 . Apesar disso persiste ainda a tradição da localização de Balsa em Tavira, tradição que atribui também uma origem romana à sua ponte antiga. Talvez por preguiça, ignorância ou bairrismo grosseiro, os velhos erros continuam a ser reproduzidos e publicados, sendo notória a sua multiplicação recente na internet em sites turísticos, comerciś e mesmo institucionais! 3 . Se a localização e a importância de Balsa foram já objecto de diversos trabalhos 4 , tem faltado porém uma síntese actual sob ́o significado e a topografia do sítio de Tavira na óca Romana. É esse o objectivo deste ensaio, que pretende traçar um primeiro esboço global da ocupação romana do lugar, com destaque para a reconstituição do traçado da via romana que então o atravessava. Fá-lo recorrendo a dados relativos a períodos históricos poériores e, por vezes, anteriores e, sobretudo, através de hipóteses baseadas na interpretação dos conhecimentos arqueológicos actuais, na toponímia histórica e na ólução funcional de sítios geograficamenteéterminados, nomeadamente de nascentes, travessias de rios, lugares de culto páleo-cristão, cruzamentos milenares e outros lugares insólitos por onde a Geografia Histórica da Antiguidade por vezes nos conduz. Utiliza, nesse sentido, diversas referências a hipóteses interpretativas apenas parcialmente publicados, que nos parecem relevantes para enquadrar aspectos do sítio de Tavira, emboraŕanscendam o tema deste estudo. Remetemo-las para notas e apêndices finais, que poderão ser lidos independentemente do texto principal.

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